A Vivência do Luto na Infância
- Psicóloga Ritchele
- 19 de mar. de 2020
- 3 min de leitura
A morte é parte da vida dos seres vivos, entretanto, ainda é um tema de difícil abordagem em nossa sociedade. Situações de luto e morte são, a todo o momento, evitadas e, quando tem de ser enfrentadas, são compostas por medo.
Devido a essa percepção sobre a morte, os adultos, muitas vezes, subestimam a capacidade das crianças para enfrentar e entender o assunto. Assim, impedimos que elas participem desse processo. Embora tenhamos a ideia de protegê-las, acabamos interferindo negativamente, pois, assim como os adultos, as crianças precisam enfrentar a situação para elaborar a perda.
Apesar de ser um tema considerado por nós como “pesado”, especialmente quando se trata de alguém muito próximo, a criança precisa saber o que está acontecendo, de forma clara, através de palavras simples, procurando esclarecer possíveis dúvidas que ela tenha, sempre prezando a verdade. Também, é importante não fantasiar a situação, dizendo a ela, por exemplo, que a pessoa que faleceu “foi para o céu”, uma vez que isso acaba confundindo as crianças, pois elas entendem tudo de forma muito concreta. Também, muito comum, é dizer que a pessoa que faleceu está dormindo. É preciso atentar a isso, pois a criança pode ficar com medo, inclusive, de dormir, fantasiando que se ela ou alguém importante for dormir, ela também morrerá.
A vivência do luto na criança vai depender de diversos fatores, como a idade, a religião, a cultura, entre outros. Um dos fatores principais é a forma como os adultos ao seu redor abordam a situação. Os familiares devem usar palavras simples, que a criança possa entender, de acordo com sua idade, mas que explique suas dúvidas.
Com relação aos rituais, como o velório, por exemplo, é importante explicar tudo o que vai acontecer no local e deixar que a criança decida se quer ou não despedir-se da pessoa, participando do ritual.
Deixar a situação clara para a criança permite que ela não crie fantasias em sua mente, auxiliando-a a reorganizar-se diante da perda de alguém querido. Estar presente em uma situação sem saber o que está acontecendo de fato, pode deixa-la confusa, insegura e assustada. Além disso, estar presente e participar do processo faz com que ela não se sinta sozinha em sua dor.
Assim como o adulto, a criança vivenciará muitos sentimentos, especialmente, o medo. É importante que ela tenha alguém como referência, para ficar próximo, que represente proteção e confiança. Isso permitirá ela vivencie esse momento, tendo alguém como apoio e podendo expressar o que sente com relação a sua perda. Evitar sentimentos desagradáveis não ajuda, apenas faz com que ela sinta-se reprimida, pois não falar sobre a dor não significa que ela não exista. Por isso, deve-se permitir a expressão de seu pesar.
Esses sentimentos podem ser expressos pela criança de diferentes formas: choro, recusa a brincar ou brincadeiras que encenem o tema da morte, comportamentos mais agressivos ou passividade, por exemplo. Essas manifestações são naturais e precisam ser acolhidas pelas pessoas próximas.
Nesse contexto, o psicólogo pode estar presente como orientador aos pais ou familiares mais próximos, como uma forma de prevenção. Os pais precisam saber, também, reconhecer seus limites com relação a isso, buscando a ajuda de um profissional, caso sentirem necessidade. Pode-se pensar em um acompanhamento psicológico com a criança e sua família, para que as dificuldades sejam minimizadas e a situação seja encarada de forma mais natural, auxiliando a todos os envolvidos a se reorganizarem interna e externamente a partir de sua perda. A presença de um psicólogo é fundamental neste momento para proporcionar suporte à família, avaliar o momento certo para a criança receber a noticia e, na psicoterapia, proporcionar uma melhor adaptação à nova estrutura familiar, no caso da pessoa falecida ser do convívio familiar da criança.
Psicóloga Ritchele Schaider
CRP 07/28584
(54) 9.9933-2417
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Texto publicado no Jornal Informante em 04.05.2018
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